terça-feira, 25 de agosto de 2015



Crítica Teatral – Espetáculo Final da Tarde – Grupo Teatro de Caretas







Rua 45, a Anfitriã  
Por Danilo Castro


Tem gente que faz teatro na rua, tem gente que faz teatro com a rua. Uma simples preposição faz toda a diferença em um conceito. O grupo cearense Teatro de Caretas, embebeu-se das ruas do centro de Maracanaú (CE), durante a segunda edição do Festival Nacional de Teatro de Rua do Ceará, ocorrida entre 4 e 6 de junho de 2015.
Sob o alaranjado do céu vespertino, o espetáculo “Final de Trade” conta a história Wildysllane da Silva Pereira (Vanéssia Gomes), moça simples, negra, analfabeta, moradora do Bairro Jereissati II, na Zona Metropolitana de Fortaleza. Talvez ela tenha recebido esse nome “rebuscado” pela sede de inclusão da mãe, Dalila (Vera Araújo). Afinal, o que é uma singela Maria diante de uma WILDYSLLANE, que esbanja imponência no próprio nome?
E é nessa linha da inclusão, proposta pelo Caretas, que se equilibra a encenação COM a rua e não apenas NA rua. A dramaturgia e direção de André Carreira, do grupo Experiência Subterrânea (SC), costura a trama propondo uma integração efetiva do público, que percorre um trajeto de lirismo cênico, rompendo o cotidiano da urbes.
Como não se envolver com um casamento que acontece à beira do Frigorífico São Francisco, em meio à vitrine dos galetos giratórios? Como não achar interessante a Dona Silvia, vendedora de cachorro quente, que entrou na história como patroa da Wildysllane? Ou mesmo o público na alameda da avenida principal, que lê em coro a carta de Manuel (Non Sobrinho) dizendo que não voltará mais do Acre.
É um choque na rotina dos transeuntes. É puxavante que aguça a curiosidade e mexe com a noção entre ficção e realidade o tempo todo. Mesmo que não haja pretensão do grupo em enveredar pelo Teatro do Invisível, já que a poesia grita forte através de imagens que rompem qualquer noção do real. Aos poucos, o povo vai se juntando, desconfiado, cruzando os braços e perguntando: “É teatro?”. Depois vão entendendo: “Sim, é teatro!” e vão se envolvendo.
De onde vem o som da marcha matrimonial? De onde vem o fogo que arde na pista? De repente um bordado se agiganta de uma sacada e corre por cima da rua transversal. É um susto ouvir os tiros que matam a travesti Ofélia (Non Sobrinho), filha de Wildysllane, e encontrá-la chapada ao chão, impressa num banner gigante, ensopada de sangue, na porta da loja de eletrodomésticos.
Ao mesmo tempo que o simbolismo imagético nos leva a outra dimensão da realidade, no estilo de atuação proposto pelo trabalho dos atores, há uma tentativa de tornar espontâneo um diálogo poético, uma dramaturgia escrita pela mão de um e dita pela boca do outro. Dilemas do ofício do ator. Às vezes, recolocar um texto a partir das intenções pessoais e arremates de fala de um ator pode ajudar a deixar a escrita/fala menos distante dele mesmo.

Somos partícipes de tudo isso. E melhor, sem qualquer tipo de constrangimento que muitas obras provocam ao propor interação. As portas da casa estão abertas para sairmos da proteção da sala de espetáculo e sermos recebidos pelo caos da vida cotidiana, da rua, dos carros, dos ambulantes, dos vira-latas, dos transeuntes. Final da Tarde poderia também ter nome mutante, sendo homônimo ao nome das vias em que a trama acontece a cada apresentação. Bem-vindos à Rua 45, a Anfitriã. Caminharemos daqui pra frente COM ela.
Crítica Teatral – Espetáculo Final da Tarde – Grupo Teatro de Caretas
                           


A rua não tem fim
Paulo Renato Abreu


            Final da Tarde é um abraço que o grupo Teatro de Caretas dá na rua. O espetáculo é um passaporte oferecido ao transeunte, que escolhe se quer ou não seguir os rastros de uma família desnudada na calçada. A montagem se monta no contato com quem passa e, por isso mesmo, arrebata e envolve. As cenas nos fazem diminuir o passo e viver aquela história como se fosse nossa.
“É encenação”, avisou uma senhora que passava na rua Quarenta e Cinco, no Maracanaú, enquanto a obra cênica se desenrolava durante o Festival Nacional de Teatro de Rua do Ceará. De crucifixo no peito e blusa azul da loja de eletrodoméstico, um senhor rebateu: “É a realidade da vida”, disse, entendendo que aquela ficção se confunde com a nossa intimidade.
A cidade não é um cenário, ela protagoniza. Enquanto Whilddy agoniza diante de comércios, carros, bicicletas. A personagem, que guia a história, revela ao público passagens importantes da sua vida. Entre os momentos, a cena de quando ela tinha 13 anos e foi obrigada a casar com Manoel, que posteriormente deu de ombros para a família construída em ruínas. Quem também tem espaço nessa trama íntima é a filha do casal, a travesti Ofélia das Águas.
            A dramaturgia não é cronológica. Flui como uma crônica, dessas de um escritor que vem e vai no tempo a cada novo parágrafo. Sem pretensão de explicar quando a história começa ou termina, Whilddy simplesmente surge, enquanto o sol se deita. Fotos ao chão ajudam a entender os fluxos seguidos pela trama, que nos mostra o quão parecido é qualquer diálogo em família. “Não fala na frente do povo”, pede a mãe à filha Ofélia, enquanto as duas confidenciam medos no meio do povo.
O texto faz lembrar o poeta curitibano Paulo Leminski, que disse: “Ainda vão me matar numa rua quando descobrirem, principalmente, que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade”. E é exatamente esse sentimento que Ofélia das Águas no deixa. A história também evoca as palavras do escritor carioca João do Rio, que diz que a rua nos torna irmãos porque nos “une, nivela e agremia”.
            Nesse balaio ao ar livre, o casamento é o ápice do fim de tarde. É quando o fogo corre a rua e a mulher percebe que não poderá mais voltar a ser quem era. Como um cortejo de morte, o público é convidado a seguir os passos daquela mulher obrigada a estar ao lado de quem ela não ama. Com mãos cheias de arroz, o transeunte apedreja aquele desamor.
            Já a carta que revela a partida de Manoel é lida (e gritada) pelos desconhecidos, já que a mulher abandonada não sabe ler. O próprio público é quem ajuda Whilddy a entender a dor. “É assim mesmo”, disse a senhora sentada em banquinho de plástico, compartilhando um sentimento que é seu e da personagem.
            O espetáculo emociona e confunde, deixando o gosto da sidra barata de uma celebração interrompida. Marejados e desguiados, os olhos de que assiste ao espetáculo sintetizam as divergências de histórias que a urbe nos oferece. A peça tem 50 minutos, mas parece durar o tempo de um aperto de mão casual que se dá naquele ex-amor que a gente encontra casualmente numa esquina. A história de Whilddy promove, ali mesmo no calçamento, nosso reencontro com o tempo em que rua não era só um corredor.            


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

 O Grupo Teatro de Caretas presta homenagem ao teatrólogo, poeta, jornalista, amigo e espirituoso Oswald Barroso (Raimundo Oswald Cavalcante Barroso ) no dia de seu aniversário, 23 de dezembro. Ele honra nosso grupo por percorrer nossa história nos inspirando através da arte em sua sabedoria e senso ético. Tudo de melhor para você, adorável Oswald!
O Grupo Teatro de Caretas, após extensa pesquisa, apresenta a aula espetáculo RISO BRINCANTE DO NORDESTE. Texto de Oswald Barroso.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

 Em entrevista com Andre Carreira e Vanéssia Gomes, o Caderno 3, do Diário do Nordeste, escreve sobre Final da Tarde na edição desta sexta-feira. Leiam e compareçam à segunda apresentação do espetáculo, hoje, às 16h30, na Praça dos Leões.
http://www.diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/a-cidade-como-personagem-1.1178034 
Um pouco da apresentação de Final da Tarde nesta sexta-feira. Amanhã, último dia desta temporada de estreia. Praça dos Leões, 16h30!





quinta-feira, 18 de dezembro de 2014


Foi lindo! Estreamos Final da Tarde, hoje, na Praça dos Leões.
E amanhã tem mais. Não perca!

Final da Tarde é resultado da pesquisa “A cidade como dramaturgia: uma experiência de atuação na rua”, desenvolvida pelo grupo Teatro de Caretas na Escola Porto Iracema das Artes com tutoria de Andre Carreira. O espetáculo se baseia numa experiência diferente de teatro de rua, tanto na relação entre ator e público como na relação com a cidade. É uma experiência de atuação cênica baseada no detalhe da interpretação, onde proximidade e intimidade entre transeuntes e atores são os elementos centrais.